Sistema Respiratório
A respiração é uma característica básica dos seres vivos. Essencialmente, consiste na absorção, pelo organismo, de oxigênio e a eliminação do gás carbônico resultante das oxidações celulares. Nos animais superiores na escala zoológica, a troca de gases é indireta, onde o sangue é um elemento intermediário entre as células do organismo e o meio habitado por esse organismo, servindo como condutor de gases entre eles. O órgão respiratório, por excelência, é o pulmão que faz parte de um conjunto de órgãos que promovem o rápido intercâmbio de gases entre o ar e o sangue (hematose) e que constituem o sistema respiratório.
A fim de promover todo o suporte referido anteriormente, a respiração pode ser dividida em quatro funções principais: ventilação pulmonar (que significa o influxo e o efluxo de ar entre a atmosfera e os alvéolos pulmonares); difusão de oxigênio e de dióxido de carbono entre os alvéolos e o sangue; transporte de oxigênio e dióxido de carbono no sangue e líquidos corporais e suas trocas com as células de todos os tecidos do corpo e; regulação da ventilação e outros aspectos da respiração. Um adulto em repouso respira em média 12 a 15 vezes por minuto e ventila aproximadamente 6 litros de ar durante esse período. Exercícios extenuantes aumentam a frequência respiratória para 20 vezes, de forma que aproximadamente são respirados 100 litros de ar por minuto. Se a respiração cessa, uma pessoa pode perder a consciência em torno de 3 a 6 minutos; caso ultrapasse esse tempo, a pessoa pode desenvolver lesões teciduais ou ir a óbito.
O conjunto de órgãos que forma o sistema respiratório é dividido anatomicamente em vias aéreas superiores e vias aéreas inferiores. As vias aéreas superiores são formadas pelos órgãos em série nariz, faringe e laringe (alguns autores consideram a boca como um dos órgãos participantes do conjunto), que por sua vez, seguem também em série com os órgãos que formam as vias aéreas inferiores: traqueia, brônquios e pulmões (onde encontramos as unidades funcionais do sistema respiratório, os alvéolos).
Vias Aéreas Superiores
1. Nariz
O nariz é o primeiro componente do sistema respiratório, sendo responsável por conduzir, aquecer, umidificar e contribui também na filtração do ar inspirado. Ele pode ser subdividido em externo, que se abre anteriormente para a face através das narinas, e interno, sendo essa câmara dividida sagitalmente por um septo em cavidades esquerda e direita, que se abrem posteriormente para a porção nasal da faringe (nasofaringe) através dos cóanos. O esqueleto do nariz é osteocartilagíneo. A pele e os tecidos moles que cobrem o dorso do nariz geralmente são finos, principalmente na junção osteocartilagínea, local em que o esqueleto ósseo (ossos nasais) se articula com as cartilagens hialinas do nariz. Durante o preparo dos crânios a parte cartilagínea é perdida, restando apenas a parte óssea, que delimita a abertura piriforme. Ainda fazendo parte da região do nariz, temos os seios paranasais que se abrem nas cavidades nasais, aumentando a superfície de contato com o ar.
1.1. Nariz Externo
É visível externamente no plano mediano da face. A sua forma varia consideravelmente entre os indivíduos. Trata-se de uma estrutura piramidal, cuja extremidade superior corresponde ao vértice da pirâmide e é denominada de raiz. A raiz se liga ao ápice pelo dorso, que é formado pela união das faces laterais na linha mediana. Oposta à raiz e a partir do ápice, abre-se lateral e inferiormente, a base do nariz. Nesta encontram-se duas aberturas elipsoidais, as narinas, separadas por um septo e que comunicam o meio externo com a cavidade nasal. Lateralmente, a base do nariz é dilatada formando as asas do nariz. O ar respirado passa pela região das narinas e alcança o interior dessa dilatação, o vestíbulo nasal onde estão localizados as vibrissas (os pelos dessa região).
1.2. Cavidade Nasal (Nariz interno)
As cavidades nasais são as partes mais altas das vias respiratórias e contêm os receptores olfatórios em seu epitélio olfatório localizado na região da concha nasal superior. As aberturas anteriores das cavidades nasais são as narinas, que se abrem na base do nariz. As aberturas posteriores são os cóanos, que se abrem na parte nasal da faringe. Cada metade da cavidade nasal tem como limites o assoalho, teto, parede medial (septo nasal) e parede lateral que promovem a separação entre cada metade e entre as demais estruturas.
As cavidades são separadas uma da outra (direita e esquerda) na linha mediana por um septo nasal (parede medial), uma estrutura osteocartilagínea. Anteriormente essa estrutura é formada pela cartilagem do septo nasal e posteriormente pela lâmina perpendicular do osso etmoide (superiormente) e pelo vômer (inferiormente). Inferiormente são separadas da cavidade oral pelo palato duro (assoalho). E, superiormente, são separadas do encéfalo por partes dos ossos frontal, etmoide e esfenoide (teto). A parede lateral caracteriza-se por três saliências ósseas (do osso etmóide e osso concha nasal inferior) curvas, que estão uma sobre a outra e se projetam medial e inferiormente para dentro da cavidade nasal. Essas saliências são denominadas conchas nasais (superior, média e inferior) e entre elas há canais aéreos, os meatos nasais (superior, médio e inferior).
Inervação: As sensações gerais (tato, dor e temperatura) a partir da túnica mucosa nasal são percebidas pelos ramos das divisões oftálmica e maxilar do n. trigêmeo (NC V primeiro e segundo ramos, respectivamente). A sensibilidade especial (olfação) decorre principalmente do n. olfatório (NC I). As fibras autônomas inervam glândulas mucosas e controlam a atividade vasomotora cíclica e reativa.
Vascularização: A vascularização venosa advém de um rico plexo cavernoso submucoso, especialmente denso na parte posterior do septo nasal e nas conchas nasais média e inferior. Na porção posterior as veias geralmente passam para a veia esfenopalatina que drena para o plexo pteigóideo. E na porção anterior drenam principalmente para as veias que acompanham as artérias etmoidais e, estas, drenam para veias oftálmicas ou faciais. A irrigação arterial advém de ramos das artérias oftálmica, maxilar e facial.
Vista medial de corte sagital da cabeça



































































Vista medial de corte sagital mediano da cabeça


































Podemos observar na parede lateral da cavidade nasal aberturas que levam a cavidades aéreas no interior de alguns ossos do crânio. Tais cavidades são denominadas seios paranasais. Os seios paranasais são extensões, cheias de ar, da parte respiratória da cavidade nasal (portanto revestidas de mucosa respiratória) para os seguintes ossos do crânio: frontal, etmoide, esfenoide e maxila e são nomeados de acordo com os ossos nos quais estão localizados.
Vista ânterolateral de corte sagital mediano da cabeça


























Vista medial de corte sagital da cabeça










Vista medial de corte sagital da cabeça; conchas nasais superior e médias removidas

























Vista anterior de corte frontal da cabeça

















































Vistas mediais de corte sagital da cabeça










































































































2. Faringe
A faringe é um tubo musculomembranoso longo de 12-14cm de comprimento e de largura constantemente variável moldado como um cone invertido. Estende-se da base do crânio, sendo delimitada pela parte posterior do corpo do esfenoide e pela parte basilar do osso occipital. Percorre até a margem inferior da cartilagem cricóidea, onde se torna contínua com o esôfago. Posteriormente, é separada da parte cervical da coluna vertebral por tecido conjuntivo frouxo no espaço retrofaríngeo, superiormente, e, inferiormente, no espaço retrovisceral. As aberturas posteriores (cóanos) das cavidades nasais se abrem na parte nasal da faringe. A abertura posterior da cavidade oral (istmo das fauces) abre-se na parte oral da faringe. A abertura superior da laringe (ádito da laringe) se abre na parte laríngea da faringe.
A parede da faringe é formada por músculos esqueléticos (constritores e longitudinais) e por fáscia. No teto da parte nasal da faringe há uma grande coleção de tecido linfoide, a tonsila faríngea. Além disso, na parede lateral encontramos a abertura da tuba auditiva, denominada óstio faríngeo da tuba auditiva. O óstio é circundado superiormente por uma elevação da tuba recoberta por mucosa, o toro tubário que se continua inferiormente por uma prega mucosa, a prega salpingofaríngea.
A faringe se comunica com as cavidades nasal, oral e laríngea através de suas subdivisões em:
1. Parte nasal da faringe (nasofaringe): localizada posterior à cavidade nasal e superior ao palato mole.
2. Parte oral da faringe (orofaringe): estende-se desde o palato mole até a extremidade superior da epiglote e se localiza posterior à cavidade oral.
3. Parte laríngea da faringe (laringofaringe): estende-se da extremidade da epiglote até a margem inferior da cartilagem cricoidea; também é conhecida pelos clínicos como hipofaringe.
Vista medial de corte sagital mediano da cabeça e pescoço


































Vista medial de corte sagital mediano da cabeça




























Aberturas Anteriores da Faringe
(em vermelho)

Figura modificada de Moore, 2014.
3. Laringe
Laringe é uma palavra derivada do grego larungein (gritar), é um órgão curto que une a faringe à traqueia. Situa-se na linha mediana do pescoço, diante da quarta, quinta e sexta vértebras cervicais. A laringe é composta por 9 peças de cartilagem: a tireóidea, a epiglótica e a cricoidea são ímpares e as aritenoideas, as corniculadas e as cuneiformes são pares.
A cartilagem tireóidea (conhecida culturalmente como pomo de Adão) é uma peça constituída por cartilagem do tipo hialina e forma a parede anterior da laringe contribuindo para sua forma triangular. Os hormônios sexuais masculinos têm grande influência sobre ela, levando a um crescimento maior nos homens quando comparado às mulheres.
A cartilagem epiglótica é uma cartilagem do tipo elástica, grande e em forma de folha que confere elasticidade à epiglote. Situa-se posteriormente à raiz da língua ao osso hioide, e anteriormente ao ádito da laringe. O “caule” da epiglote, com nomenclatura anatômica de pecíolo, é fixo à cartilagem tireóidea, porém a outra extremidade não é fixa, estando livre para se mover para cima e para baixo. Com o processo de deglutição, a laringe eleva-se, fazendo a epiglote cobrir o ádito da laringe como uma tampa, fechando-o e impedindo que alimentos e líquidos entrem na laringe, ou seja, ganhem a via aérea; porém ao respirar esta estrutura não oclui o lúmen da laringe. Abaixo da epiglote tem-se a glote, esta é uma região que contém pregas vocais e espaço entre elas. As pregas vocais são estruturas formadas pela túnica mucosa da laringe, assim como as pregas vestibulares.
A terceira peça cartilagínea, a cartilagem cricoidea, é um anel de cartilagem hialina fixado ao primeiro anel de cartilagem da traqueia, inferior a ela. Acima da cartilagem cricoidea estão localizadas as cartilagens aritenoideas que são peças pares constituídas pelo tipo hialino. Elas fixam-se às pregas vocais e aos músculos da faringe, atuando na produção da voz. Já as cartilagens corniculadas, superiores às aritenoideas, são estruturas que possuem forma de um pequeno chifre e as cartilagens cuneiformes tem forma de cunha.
Vista anterior

























































































Vista posterior














































































































4. Traqueia
Vias Aéreas Inferiores
É um tubo fibrocartilagíneo mediano, localizado, aproximadamente no plano sagital, que se estende da laringe até o tórax, no mediastino superior (na altura da 5ª vértebra torácica), onde se bifurca para formar os brônquios principais direito e esquerdo. A traqueia é anterior ao esôfago e nas suas laterais encontram-se as artérias carótidas comuns direita e esquerda. O seu comprimento é de aproximadamente 11 cm, e seu diâmetro transverso varia de 15 - 20 mm em adultos vivos. A luz em adultos vivos tem um diâmetro transverso médio de 12 mm, porém após a morte pode haver um aumento devido o relaxamento da musculatura lisa.
Vista medial de corte sagital mediano











































Vista superior





































A face anterolateral é constituída por anéis cartilaginosos hialinos incompletos posteriormente, em forma de letra C, os anéis traqueais, fechados posteriormente pelo músculo liso traqueal na parte membranácea da traqueia. Há variavelmente um total de 16-20 cartilagens traqueais, sendo que cada anel traqueal está ligado ao outro por um ligamento anular. A primeira e a última cartilagem da traqueia se diferem das demais. A primeira é mais larga, e a última na porção inferior tem formato diferenciado e origina a bifurcação traqueal (antigamente denominada carina da traqueia), formando os brônquios principais direito e esquerdo, que conduzem o ar inspirado aos pulmões ou o ar expirado à traqueia.
A forma transversa da luz traqueal é variável, especialmente nas décadas mais avançadas da vida, e pode ser arredondada, semilunar ou achatada. À broncoscopia a parede posterior da traqueia salienta-se na luz e isso é exagerado na expiração e ao tossir. A extremidade distal da traqueia é visível como um esporão côncavo. Um brônquio traqueal pode se originar ocasionalmente da parede lateral da traqueia, mais frequentemente do lado direito; este pode ser supranumerário ou constituir uma via aérea do lobo superior deslocada.
IRRIGAÇÃO: a traqueia é suprida, principalmente, por ramos das artérias tireoideas inferiores. Em sua porção torácica alguns ramos inferiores sofrem anastomoses com ramos das artérias brônquicas. As veias que drenam a traqueia terminam no plexo venoso tireoideo inferior.
INERVAÇÃO: os plexos pulmonares anterior e posterior inervam a traqueia e os brônquios. Os dois plexos estão interligados. A traqueia é inervada por ramos dos nervos vagos, nervos laríngeos recorrentes e troncos simpáticos. Os nervos entram no pulmão como redes que seguem ao longo de ramos dos brônquios e de vasos pulmonares e brônquicos até a pleura visceral. Axônios pré-ganglionares vagais eferentes fazem sinapse em pequenos gânglios nas paredes da árvore traqueobrônquica: estes podem agir como locais de integração e/ou modulação da estimulação de nervos extrínsecos ou permitir algum controle local sobre a função das vias aéreas por mecanismos reflexos locais. O sistema nervoso parassimpático é a via neuronal dominante no controle do tônus muscular liso das vias aéreas. A estimulação de nervos colinérgicos causa broncoconstricção, secreção de muco e vasodilatação brônquica. Os nervos simpáticos controlam vasos sanguíneos traqueobrônquicos, mas a inervação da musculatura lisa das vias aéreas em seres humanos por fibras adrenérgicas simpáticas ainda deve ser convincentemente demonstrada.
Vista anterior

























Vista posterior







5. Brônquios
Na parte distal da traqueia observa-se uma bifurcação (na clínica denominada de carina) que distribui o lúmen da via aérea em duas porções. Essas porções são denominadas de brônquios principais (esquerdo e direito), que partem para os pulmões correspondentes ao seu lado. O brônquio principal direito se aloja de forma vertical e tem um diâmetro maior e comprimento menor, quando comparado com o brônquio principal esquerdo. Essa sua característica contribui na maior probabilidade de objetos ou corpos estranhos penetrarem essa parte da via aérea, causando comorbidades. Já o brônquio principal esquerdo é mais delgado, mais horizontalizado e tem um comprimento maior, favorecendo uma melhor filtragem do ar.
Ao penetrar nos pulmões pelo hilo pulmonar, os brônquios principais dividem-se para formar brônquios menores: os brônquios lobares. Os brônquios lobares partem para cada lobo do pulmão; os pulmões são divididos em lobos (pulmão direito com três lobos e o esquerdo com dois lobos). Mais distalmente, os brônquios continuam a se ramificar, formando brônquios ainda menores: os brônquios segmentares. Estes têm uma nomenclatura específica, caracterizada pelo lobo e segmento que pertencem.
Os brônquios do pulmão esquerdo se dividem em dois compartimentos de brônquios segmentares. O primeiro compartimento é o lobo superior, neste o brônquio lobar tem duas divisões: a divisão superior com seu brônquio segmentar ápico-posterior e brônquio segmentar anterior e; a divisão inferior (língula) com os brônquios segmentares superior e inferior. Já o segundo compartimento, o lobo inferior do pulmão esquerdo, tem o brônquio lobar que se divide em brônquios segmentares (o superior, o basal ântero-medial, o basal lateral e o basal posterior). Já os brônquios do pulmão direito se dividem em três compartimentos: o lobo superior, o lobo médio e o inferior. No lobo superior tem-se os brônquios segmentares apical, posterior e anterior. No lobo médio há os brônquios segmentares lateral e medial. E por último, os brônquios segmentares do lobo inferior do pulmão direito são: o brônquio segmentar superior, o basal medial, o basal anterior, o basal lateral e o basal posterior. Cada um desses brônquios segmentares se ramificam em estruturas menores denominadas de bronquíolos primários (nomenclatura não muito comum), e estes em bronquíolos terminais. Os bronquíolos terminais são a última via condutora para, a partir daí iniciar a zona respiratória (vide histologia). Os primeiros componentes da via respiratória (iniciando o processo de troca gasosa) são os bronquíolos respiratórios. Cada um dos dos bronquíolos respiratórios tornam a se ramificar em ductos alveolares, estes desembocam em alvéolos e sacos alveolares.
Vista anterior
























































































6. Pulmões
Vista anterior da face costal





































Vista anterior da face costal





































Detalhe da face mediastinal e hilo pulmonar


























































7. Músculos que atuam na respiração
Adicionar descrição
Vista anterior































Vista anterior
















Vista inferior














































Face posterior da parede anterior do tórax e abdome



















Referências Bibliográficas
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TERMINOLOGIA ANATÔMICA. São Paulo: Manole, 2001.
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MOORE, K L.; DALLEY, A F.; AGUR, A M. R. Anatomia Orientada para a Clínica. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
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PAULSEN, F.; WASCHKE, J. SOBOTTA Atlas de Anatomia Humana. 23 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
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DRAKE, R L.; VOGL, A W; MITCHELL, A W M. GRAY’S. Anatomia Para Estudantes. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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NETTER, F. H. Atlas de anatomia humana. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004.
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PEZZI, L H A; PRINZ, R A D; CORREIA, J A P; PESSANHA NETO, S. Anatomia Clínica Baseada em Problemas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
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TORTORA, G J.; NIELSEN, M T. Princípios de Anatomia Humana. 12 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013